A citação da manipulação da Globo do debate eleitoral
entre Lula e Collor em 1989 é um fato histórico que,
inclusive, foi confirmado pelo próprio Boni, que era
um dos homens fortes da Globo naquela época.
Neste ano vamos ter eleições para cargos executivos,
Presidente e Governador, e também para cargos legislativos, deputados
estaduais, federais e para Senador. Em um Brasil onde a Internet se torna a
ferramenta de acesso a informação e comunicação para as pessoas em uma escala
cada vez maior já vai longe o tempo em que as campanhas eleitorais eram feitas
de forma direta em relação ao eleitor,
com entrega de panfletos em um trabalho que era feito em combinação com
comícios, apoio do rádio e também da televisão, principalmente a partir da segunda metade dos anos sessenta do século passado.
Nesses tempos de panfletagens, comícios, propagandas no rádio
e posteriormente na televisão, se sobressaia também a importância dos setores
da sociedade considerados como formadores de opinião, que conectados com as
informações e os debates que aconteciam na mídia tradicional, reproduziam o que assimilavam junto a população menos informada e
escolarizada formando tendências de opinião que poderiam determinar a eleição
de um candidato, o que de fato realmente acontecia.
Dos anos setenta para os anos oitenta do século passado
cresceu muito o papel das propagandas políticas na televisão, assim como a
influência das empresas de comunicação, principalmente de televisão, com
destaque para a Rede Globo, nos processos eleitorais. Maior exemplo de como as
redes de televisão passaram a influenciar os resultados eleitorais foi a
manipulação do debate para a eleição presidencial entre Lula e Collor em 1989
feita pela Rede Globo, que usou seus telejornais para dar destaque ao fato, que
acabou por influenciar o resultado final daquela eleição presidencial em favor
de Collor.
Porém, a maior mudança com impacto nos processos eleitorais
estamos vivendo, agora, no século vinte um, com a massificação da Internet
através das redes sociais onde as informações circulam com muita rapidez e as
opiniões formadas podem mudar em espaços de tempo muito curtos, podendo
determinar mudanças de cenários eleitorais e resultados finais. Como exemplo,
novamente, podemos citar a virada histórica na eleição para o parlamento da
Espanha com a surpreendente vitória do socialista José Luis Rodríguez Zapatero
no dia 14 de Março de 2004 em uma Espanha traumatizada por um ataque terrorista
que aconteceu três dias antes da votação, que o governo de direita da Espanha
insistiu em atribuir a terroristas bascos, sendo desmascarado pelo fato de que
a rede terrorista Al-Qaeda assumiu a autoria do atentado, mostrando a mentira
do então primeiro ministro José Maria Aznar, o que irritou os eleitores
espanhóis informados que foram pelas redes sociais na Internet da mentira do
governo em um espaço de apenas 24 horas, que foi o bastante para determinar o
crescimento e a vitória de Zapatero, que acabou ficando com um pouco mais de
42% dos votos diante de um pouco mais de 37% de seu adversário Mariano Rajoy apoiado
por Aznar, sendo que o candidato governista tinha liderado todas as pesquisas
em todo processo eleitoral com números sempre próximos aos 45% de intenções de
votos.
Nesse contesto, as pesquisas eleitorais sérias feitas com o
objetivo de determinar as estratégias a serem adotadas são cada vez mais
importantes. São pesquisas com características diferenciadas, que precisam ser
realizadas não necessariamente para serem divulgadas, mas com toda garantia de
sigilo e confiabilidade, tanto do contratante quanto do contratado, porque elas
não são feitas para ter impacto de mídia, mas planejadas para captar a
tendência do eleitorado em função do debate político que acontece e que tem
como conseqüência a formação de tendências da opinião publica no cenário que se
desenha através de levantamentos quantitativos e qualitativos. São pesquisas que tem
a importante finalidade de ser base para a estratégia a ser adotada pelo
comando das campanhas dos candidatos.
O acirramento do debate eleitoral no Brasil, principalmente
depois das manifestações de junho e julho do ano passado, deverá ter como
protagonistas, principalmente em relação ao crescimento da Internet, um número
cada vez maior de pessoas com seus blogs e participação nas redes em contraposição
a perda de espaços da mídia tradicional, com destaque para os jornais escritos
e redes de televisão, que hoje já não tem mais o poder de formar opinião que
tiveram no passado.
Nesse novo cenário, a existência de setores da sociedade considerados como formadores de opinião é cada vez menor, na medida em que a escolaridade do brasileiro cresce ao mesmo tempo em que também cresce o acesso à internet e a participação do cidadão comum nas redes sociais.
Diante dessa realidade, as pesquisas deverão ter um papel
ampliado na conjuntura da disputa eleitoral de 2014, principalmente na busca das novas realidades formadas a partir das tendências de opinião pública surgidas.
Flávio Luiz Sartori
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